Onda de otimismo leva a crescimento das vendas nos supermercados e requer olhar atento da indústria às variações nas necessidades do consumidor
A tempestade da crise econômica ainda não passou, mas já é possível ver sinais de melhora no horizonte. Uma prova disso é que os supermercados do país tiveram um crescimento real de 2,95% nas vendas no mês de janeiro, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Esse retorno ao consumo, no entanto, tem bases muito mais calcadas na expectativa do que em um crescimento expressivo geral na economia. Animados com a possibilidade de mudanças na gestão do País, alguns empresários se dispuseram a aumentar, ainda que timidamente, seus investimentos. O resultado foi o discreto reaquecimento do consumo, mas trata-se de uma melhora que ainda não se consolidou.
Consumo consciente
Na classe C, esse retorno às compras é diferente do chamado “consumo ostentação”, característico da época de sua ascensão, que ocorreu na década anterior. Na atualidade, o comportamento dessa camada da população preza pelo equilíbrio no custo-benefício.
Segundo Sillas de Souza Cezar, professor do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), “certamente, esse movimento de retomada de consumo é positivo, mas não se deve pensar que será tão forte quanto antes, quando diversos fatores convergiram para o aumento do crédito. Não há sinais consistentes no cenário atual que possam sugerir o retorno dessa convergência”.
Reflexos no setor de alimentos
Para o setor de
alimentos, em termos práticos, a onda de otimismo ou até uma eventual variação
positiva na renda dos consumidores não deve causar aumento nas vendas, mas sim,
variações nos hábitos de consumo.
“Uma família que consome contrafilé, por exemplo, com um aumento na
renda poderá passa a consumir filé-mignon. Entretanto, a quantidade de carne
permanece a mesma. Sendo assim, esses setores dependem de outros fatores que
vão além da demanda para crescerem, como, por exemplo, melhoras nas condições
de produção”, revela Souza.
Lição de casa
Alguns setores da indústria brasileira estão operando com, aproximadamente, 70% de sua capacidade de produção. Se as expectativas positivas de fato se reverterem em aquecimento da demanda, não haverá necessidade de investimentos em curto prazo. “O compasso do mercado é de espera e, de qualquer forma, a lição de casa para o momento é ajustar-se às necessidades correntes do mercado, fazendo a manutenção de uma estrutura produtiva eficiente, com gastos otimizados e foco constante em inovação. Aliada à adaptabilidade frente às necessidades de consumo, ela se apresenta como um componente indispensável ao sucesso empresarial”, conclui o professor.