Aumenta o interesse por modelo de negócio mais democrático, acessível e menos burocrático

Atualmente, as cooperativas de crédito movimentam cerca de R$ 100 bilhões por ano no país. Elas se desenvolveram ao longo dos anos, como uma alternativa mais acessível de acesso ao crédito, tanto em termos de custo (taxas de juros reduzidas) como em face da redução na burocracia relacionada aos produtos financeiros.

O fato de o cenário nacional apresentar, historicamente, dificuldades estruturais, como  a concentração do mercado de crédito a um número reduzido de instituições financeiras, e as barreiras encontradas nos processos de recuperação judicial contribuem para que o mercado tradicional de crédito brasileiro seja um dos mais caros do mundo, o que naturalmente posiciona o sistema de cooperativas como uma melhor opção.

É oportuno observar que, segundo o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Corporativo, estudo detalhado do Banco Central realizado em dezembro de 2018, o número de cooperativas naquele ano foi maior do que o observado em 2017.  

O professor e doutor Tiago Slavov, coordenador do Núcleo de Apoio Fiscal (NAF) da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), explica que a redução não é sinal de encolhimento do segmento. Pelo contrário, é resultado de alguns processos de incorporação que elevaram a eficiência das cooperativas.

“Isso possibilitou a redução de custos e a profissionalização da administração, o que refletiu, por exemplo, no aumento no número de postos de atendimento: de 4,9 mil em 2017 para 5,3 mil em 2018”, conta Slavov.

Uma curiosidade que demonstra a crescente expressividade das cooperativas foi detectada na mesma pesquisa: 182 municípios brasileiros contam apenas com o atendimento de cooperativas de crédito. Não possuem, portanto, agências bancárias tradicionais.

Características do cooperativismo brasileiro

Para Slavov, a principal diferença entre as cooperativas e o sistema bancário tradicional está no papel exercido pelos cooperados. “Eles não são apenas clientes, mas participam da gestão dos recursos, incluindo sua destinação. Além disso, como as cooperativas de crédito são entidades sem fins lucrativos, usufruem de benefícios fiscais. Nesse caso, é relevante destacar que as ‘sobras’ (termo utilizado nessa modalidade jurídica) são revertidas para os próprios cooperados”, complementa o especialista.

De acordo com dados do Banco Central, nota-se que as empresas vêm aderindo cada vez mais à modalidade do cooperativismo. Por setor, a presença das cooperativas de crédito está distribuída da seguinte forma: 44% das companhias de serviços aderiram ao sistema, seguidas do comércio, com 39%, das indústrias com 16%, e do agronegócio, com 1%.

O aumento da procura pela modalidade é acentuado ainda pelo custo reduzido no acesso a serviços, como emissão de boletos e processamento de cartões.

Perspectivas para o futuro

No final do mês passado, o Banco Central ampliou a capacidade de emissão de Letras Financeiras (LF) por parte cooperativas de crédito. Antes dessa medida, a captação só era possível para a composição do Patrimônio de Referencia (PR) dessas entidades.

Com a mudança, há expectativa de ampliação da capacidade de recursos das cooperativas, o que deve gerar maior oferta de crédito a cooperados. Apesar dos holofotes voltados atualmente às fintechs – empresas financeiras que trabalham em plataformas digitais – o esperado é que muitas dessas startups, no futuro, sejam incorporadas por grandes bancos.

“Dessa forma, busca-se preservar o modelo de negócio. O modelo cooperativo, mais democrático, ainda deve persistir como principal fator competitivo no segmento financeiro, nos próximos anos”, sinaliza Slavov.

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