Mais do que posicionamento, esta nova geração demandará das organizações ações efetivas e alinhadas a discursos, em especial quando o assunto é respeito à diversidade e valores éticos
Se as gerações Y e Z são consideradas aquelas que valorizam o propósito das empresas, o grupo que recentemente passou a ser chamado de Alpha promete um perfil de consumidor ainda mais criterioso em um futuro bem próximo. É o que comentam profissionais que estudam comportamento de personas (“personagens” que representam um determinado padrão de audiência, seus anseios e hábitos) e tendências de mercado.
A geração Alpha compreende os nascidos a partir de 2010, ou seja, incluem crianças que estão adentrando a pré-adolescência e já demonstram a que vieram. Isso porque condutas até então consideradas como diferenciais pelas gerações anteriores, sob a ótica dos Alphas, são óbvias.
Não os subestimem
Para eles não existe fronteira entre on e offline. Faz parte do repertório deles a internet 24 horas por dia, sete dias por semana, o streeming, memes e os vídeos de dancinhas no Tiktok e no Kwai (mídias sociais de compartilhamento de videoclipes curtos).
Para a especialista em Gestão da Inovação, com 28 anos de experiência na área, Valéria Guerra, este perfil não pode ser interpretado como sinônimo de superficialidade.
“Por incrível que pareça, eles são super engajados e encaram com muita naturalidade questões complexas, por exemplo, as que envolvem a diversidade humana”, afirma Valéria, que é mestra e doutoranda em Comunicação Contemporânea.
Valores reais na mira
Não à toa, a nova geração foi escolhida pela Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) para protagonizar uma campanha com vídeos cuja abordagem questiona “brechas” nas condutas morais, para alertar quanto ao acesso a TVs por assinatura por vias paralelas.
A narrativa, na voz das crianças, indaga sobre a coerência entre discurso e prática. Eis aí o cerne comportamental dos Alphas. “As gerações anteriores levantaram problemáticas importantes a serem debatidas, enquanto a geração Alpha busca por ações éticas, afirmativas e concretas”, comenta Valéria.
Entre o Tiktok e questões profundas
Isso pode estar intrinsecamente relacionado à realidade global. De acordo com Courtnay Guimarães, que atua há 35 anos em áreas como Arquitetura de Negócios e Estratégia Digital, essa é a primeira geração que vai vivenciar uma crise global em diferentes escalas, uma vez que a pandemia gerou situações como restrições sociais, limitações financeiras e perdas de entes queridos como fenômeno em todo o planeta.
“Nem a geração X viveu isso. Talvez até os Baby Boomers tenham vivido só conflitos regionais”, diz Guimarães, que acredita na consolidação desta visão identificada nos Alphas como um dos possíveis resultados, trazendo maior cobrança por coerência, diversidade, consumo consciente e reconhecimento de valor versus custo benefício, além de uma demanda por mais liberdade no trabalho.
O desafio para as empresas
Ao que tudo indica, os Alphas, altamente conectados e informados, buscarão mais equilíbrio entre trabalho, família, amigos e lazer, esperando, também, serem vistos como pessoas com inúmeras individualidades. “Neste contexto, as empresas precisarão se esforçar para encantá-los”, frisa Valéria.
Fica evidente que haverá um cenário novo para as organizações, com desafios em vários aspectos. Será fundamental construir novas formas de se relacionar com colaboradores e consumidores, abraçando valores como práticas e reconhecendo, mais do que nunca, que é preciso ir além de uma abordagem única para todos.