Especialistas comentam como driblar os entraves comuns nos departamentos de crédito das empresas
Com os avanços dos últimos anos, processos de todos os departamentos nas empresas ganharam em modernização e dinamismo. Na mesma medida, também foram surgindo novos desafios. Com a área de crédito não foi diferente.
Profissionais que atuam no setor e especialistas e consultores de segmentos que se relacionam com o crédito comentam que a área tem dificuldades particulares e, por isso, requer um olhar específico e estratégico para a eficiência das análises.
1 – Manter a agilidade das análises
Com o grande volume de solicitações de concessão de crédito, a coordenadora do setor de crédito da nossa associada Ourolux, Elizangela Costa de Oliveira, considera que a lida operacional é o principal entrave. “A automatização ainda não é uma realidade de mercado.”
Ela conta que o departamento de crédito da Ourolux já fez os primeiros testes na plataforma Maxxi, criada pela CISP e oferecida sem custo adicionais aos associados. “Estamos na expectativa para o pleno uso desta tecnologia, que será um divisor de águas para a área de crédito”, frisa Elizangela.
2 – Buscar garantir risco mínimo de inadimplência
O setor de crédito mira a mitigação do risco de inadimplência, o que evidencia a importância dos filtros junto aos diversos birôs e das análises documentais diversas. Uma dica de Elizangela é buscar parceiros para a troca informações sobre os clientes que possuem em comuns.
No quesito “inadimplência”, vale ressaltar que risco e incerteza diferem. “Risco é o que leva a perdas, mas que é possível ser mensurado para a tomada de decisão quanto à concessão de crédito. Já a incerteza não tem como ser calculada”, explica o especialista em Finanças Corporativas e em Gestão Econômica e Financeira de Empresas José Everardo Alves Pereira, professor na Faculdade Capital Federal (FECAF).
Portanto, ainda que as tomadas de decisões sejam cuidadosamente baseadas nas avaliações de risco, é preciso ter em mente que existe um grau de incerteza sobre o qual não se tem domínio – a exemplo da pandemia, que surpreendeu todos os países e que, mesmo após um ano e sete meses, ainda não se pode calcular a extensão dos impactos.
3 – Manter olhar atento ao contexto pós-Covid
Ainda há efeitos dos desfalques nos meses anteriores da pandemia e as interferências da falta de confiança dos consumidores. “Com isso, mesmo clientes de longa data e com excelentes históricos podem apresentar atrasos nos pagamentos”, ressalta Elizangela. A profissional sugere avaliações constantes do comportamento dos clientes para adequação nos limites de crédito, considerando possíveis reduções.
De acordo com a consultora da área de crédito Janaine Pimentel, os departamentos podem e devem gerar informações relevantes para a área de negócios. “Relatórios podem auxiliar na identificação de oportunidades com clientes que possuem bom comportamento e que não estejam ativos no momento”, exemplifica a especialista.
4 – Engajamento com a área comercial
Se os negócios a partir de canais remotos já estavam em alta, o isolamento social durante a pandemia contribuiu para a aceleração desse crescimento. “Neste contexto, também aumentam as tentativas de fraudes”, alerta Elizangela, que se refere a apresentação de documentos alterados e falsas empresas nos processos de solicitação.
A orientação é manter as equipes de crédito alinhadas às da área comercial, em uma troca de informações estratégica para identificar práticas fraudulentas e reduzir riscos.
5 – Ter política de crédito
Este é o mais importante critério, pois é a partir da política de crédito da empresa que todas as regras e condutas serão estabelecidas. Janaine indica que a análise se dê considerando, no mínimo, os 4 C’s do Crédito: Caráter, Condições, Capacidade e Colateral.
Em resumo, estes critérios incluem avaliações de tópicos básicos e detalhados junto aos clientes, entre os quais estão demonstrativos financeiros e contábeis, fluxo de caixa, balanço patrimonial, capitais próprios e de terceiros, ciclo de vendas, margens de lucro e histórico de comportamento de mercado.
“Para isso, é indicado que a análise desses pontos se aplique a pelo menos três ciclos retroativos”, comenta o professor José Everardo, que ainda cita a importância da avaliação de como vai o segmento de mercado em que a empresa que está pleiteando o crédito atua.
Do ponto de vista macro, leva-se em consideração, indispensavelmente, os indicadores econômicos, tais como níveis de inflação, taxa Selic, CDI, o PIB do País e do setor da empresa e variações cambiais.
É preciso estabelecer o fluxo dos processos internos de levantamento de todos esses dados e ter profissionais especializados para as análises. Isso será é crucial para a redução dos riscos em empresas, seja qual for o porte e o segmento de atuação.