No Crédito, analisar com cautela as pressões nos segmentos de mercado de cada cliente será estratégico
É evidente que “a maré não está para peixe” no quesito economia, e essa é a uma constatação global, guardadas as particularidades de cada país. No Brasil, os cenários que se desenharam neste ano foram de grande complexidade pela alta da inflação e da taxa de juros, enquanto a média salarial se mantém baixa. Para 2023, as projeções seguem configurando situações desafiadoras.
“Há perspectivas de melhora. Porém, entre os aspectos mais difíceis estará, sem dúvidas, a elevada taxa de juros”, diz o mestre e doutorando em economia André Paiva Ramos, que integra a diretoria do Sindicato dos Economistas de São Paulo (Sindecon-SP), o grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Econômico e Política Econômica da PUC-SP e o quadro de economistas da AC Lacerda Consultores Associados.
O comentário do especialista vai de encontro com a visão geral da conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que sinaliza previsão de crescimento de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), impulsionado pelo setor agropecuário, mas também identifica os entraves em relação às altas taxas dos juros.
Projeção atual é de taxa Selic em torno de 11% em 2023
A carta da conjuntura do Ipea pontua que “se as expectativas de inflação se desancorarem, como nos anos 1970, as taxas de juros (…) serão maiores do que atualmente antecipado nos mercados financeiros, lembrando o fantasma das fortes elevações de juros que domaram a inflação, mas também levaram à recessão global em 1982, às crises financeiras e ao início de longo período de baixo crescimento em várias economias emergentes e em desenvolvimento.”
No que diz respeito ao aperto monetário, a análise elaborada por Ramos, em parceria com o economista Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia, aponta que, com a manutenção da taxa Selic em 13,75% a.a., “a perspectiva é que o juro real feche o ano em um nível muito mais elevado do que o vigente nos últimos anos, acima de 7,0% a.a.. Esse é um dos aspectos que denota que a política monetária se encontra muito contracionista.”
Para 2023, embora haja uma perspectiva de redução, ainda assim é esperado patamar na casa dos 11% a.a..
Espaço fiscal deve ser revisto
Na opinião de Ramos, será preciso não apenas equalizar a necessidade de um espaço fiscal adicional, mas que ocorra uma reforma tributária que permita: simplificação; progressividade; redução de inseguranças jurídicas; correção das distorções que levam à concentração de renda e de mercado em favor de empresas olipolistas.
Para o economista, será fundamental “recompor elos das cadeias produtivas que foram quebrados”, o que demanda medidas que visam “criar ambiente favorável à inovação das indústrias e condições de linhas de crédito mais adequadas nos bancos públicos.”
Alta volatilidade e instabilidades
Para o especialista em finanças, controladoria e gestão de risco Daverson Furlan, que integra a diretoria técnica da Planope Consultoria, com a “âncora fiscal fragilizada”, tem-se um cenário incerto devido à alta volatilidade.
“As preocupações são sérias, tanto políticas, quanto orçamentárias”, diz Furlan, ressaltando que o estamos falando de um crescimento bem baixo para 2023, com dificuldades com secas e interferências nas safras e nos preços, em cadeia.

Confira quatro dicas para a saúde dos negócios
Considerando o cenário, Furlan pontua que o Brasil possui instrumentos para passar pelas dificuldades previstas, sendo necessária uma visão de longo prazo como prioridade nas empresas. Para o especialista é fundamental:
1 – Evite dívidas: aos profissionais do Financeiro, além de não contrair novas, é preciso priorizar a quitação das já existentes. Outro aspecto crucial é não adquirir dívidas em outras moedas, dada a desvalorização do real e o cenário global.
2 – Mantenha o caixa saudável: tenha foco no capital de giro das operações com horizonte de pelo menos 90 dias. O fluxo de caixa é uma bussola!
3 – Reveja a necessidade de investimentos: alguns podem ser fundamentais, como os que envolvem equipamentos de produção, outros adiáveis. Avalie com critério.
4 – Tenha foco na gestão de riscos: análises frequentes dos cenários devem direcionar esse trabalho. Aos profissionais de Crédito esse olhar é ainda mais detalhado para o segmento de cada cliente, considerando os potenciais impactos nos negócios.