Pesquisa da CNI, no entanto, constatou a maior confiança do setor industrial desde outubro de 2022 

Com redução no volume de vendas no setor varejista e menor poder de compra dos consumidores devido à alta do endividamento e da inadimplência, o cenário do comércio requer cuidado redobrado por parte dos analistas de crédito das indústrias, embora o setor se mostre otimista. 

Desde janeiro as vendas do varejo apresentam quedas. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa diminuição foi mais acentuada entre os meses de março e maio, com uma leve recuperação em junho.  
(tabela abaixo) 

Em maio o varejo vendeu 0,7% menos do que no mês anterior (abril). Quando comparado a maio de 2022, a queda foi de 1,1%. 

Endividamento das famílias é o maior dos últimos 12 anos, diz FecomercioSP 

O cenário se torna ainda mais delicado considerando o aumento do endividamento do das famílias, que atingiu 78% segundo a Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras, elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O percentual representa a maior taxa dos últimos 12 anos. 

Outro ponto de atenção é a elevação dos índices de atraso em pagamentos de dívidas pelos consumidores. Ainda segundo o levantamento da federação, aproximadamente 4,9 milhões tinham alguma conta em atraso no fim de junho deste ano, o que significa algo em torno de 600 mil a mais do que no ano passado. 

Otimismo cresce na indústria, aponta CNI 

Por outro lado, apesar desse contexto desafiador, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), aponta otimismo em destaque no setor, neste mês de agosto. 

De acordo com a pesquisa, o avanço foi de 2,1 pontos para 53,2 pontos, colocando a confiança da indústria no maior patamar desde outubro de 2022. 
(tabela abaixo) 

A CNI atribui o resultado, principalmente, à melhora das expectativas. Esse argumento pode ter relação com algumas observações trazidas pelo especialista em finanças e gestão de risco Daverson Furlan, diretor técnico da Planope Consultoria. 

Ele explica que apesar de impactos geopolíticos que incidem neste ano pós-pandemia – a exemplo da guerra na Ucrânia –, algumas movimentações da política nacional trouxeram esperanças. 

Como exemplos disso Furlan menciona a tramitação da reforma tributária – depois de décadas – e do pacote econômico no Senado. “O novo arcabouço fiscal não é o melhor, mas representa avanços”, diz ele, que avalia estarmos “caminhando para alguma estabilidade econômica.” 

Crédito nas indústrias: afinal, seria ou não um momento de maior conservadorismo? 

Essa é uma pergunta cuja resposta vai depender de fatores isolados além desse panorama macro. Ou seja, requer olhar individualizado dos analistas, avaliando a situação de segmentos e nichos de cada cliente – considerando que alguns mercados podem inspirar boas perspectivas econômicas e, logo, menor risco na concessão de crédito.  

Na opinião de Furlan, o grande recado do momento é: cautela. “É preciso um acompanhamento acurado, cliente a cliente”, afirma o especialista, que enfatiza ser fundamental não tomar como referência principal os relacionamentos de longa data com os tomadores de crédito que já têm mais tempo na carteira. “Não é só o novo cliente que representa maior risco.” 

Isso porque, para enfrentar os entraves da pandemia, muitas empresas varejistas precisaram tomar decisões de risco, como financiamentos e outras manobras financeiras, para a sobrevivência dos negócios. “Muitas empresas se endividaram e, agora, essa conta chegou”, alerta Furlan. 

Atenção a detalhes pode ser o diferencial para mitigar riscos 

Como ponto de atenção nas análises, o especialista enfatiza que cautela nas análises não tem relação, apenas, com a régua da política de crédito da corporação, mas com a expertise diante de detalhes, ainda que algumas tomadas de decisão possam levar um pouco mais de tempo – o que é o desafio a parte em tempos em que produtividade é, muitas vezes, atrelada à ideia de “faça mais em menos tempo”. 

A sugestão de Furlan, que como consultor atua diretamente nas dores das empresas, é que os analistas se atenham à alta responsabilidade dessa linha de frente que é o crédito representa para a saúde financeira e a manutenção dos negócios das indústrias em que atuam. 

“É indicado rever, sempre, os ativos dos clientes, por exemplo”, afirma ele, citando tópicos como contas a pagar, contas a receber, estoques e, principalmente, risco que possam vir de bens onerados – da empresa e de seus sócios.  

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