Inovação contra golpes requer, também, expertise profissional, ética e governança

Em um cenário de efetiva e acelerada transformação digital, as áreas financeira e de crédito e cobrança das empresas têm uma demanda pulsante: investir estrategicamente em novas soluções antifraudes para aumentar a segurança das operações, sem perder de vista o importante papel das pessoas para a eficácia em todas as pontas das transações. 

São inúmeras as possibilidades de recursos digitais e de inteligência artificial com aplicação em processo de gestão de risco, com impacto relevante na prevenção de golpes como manipulação de dados contábeis e falsificação de informações cadastrais para fins de desvios. Essas são algumas das situações que lesam tanto a indústria que concede o crédito quanto a empresa tomadora. 

Na prevenção de fraudes, é essencial utilizarmos uma abordagem em camadas que combine várias tecnologias para formar uma defesa robusta”, afirma o gerente de Inteligência e Tecnologia da CISP, Marcelo Amorim

Contra a falsidade ideológica em todo o ciclo de crédito 

Considerando a chegada de um cliente, fase inicial do ciclo de crédito, ou ainda as tratativas com aqueles que já fazem parte da carteira de tomadores, pode haver, por exemplo, roubo de identidade e falsidade ideológica. Como saber se o cliente é ele mesmo? 

As ferramentas de biometria facial têm sido aplicadas para a validação de diretores, gestores ou interfaces diretas, evitando que tratativas ocorram com golpistas, em vez de com o cliente. 

A tecnologia face match tem recurso adicional, uma vez que consiste em efetuar a comparação entre fotos. Ou seja, uma imagem do representante legal do cliente é comparada automaticamente com a que consta em um documento como RG e CNH cadastrado. 

Já as ferramentas de liveness pedem uma “prova de vida”, solicitando uma movimentação da pessoa – como piscar os olhos – para liberação de acessos a sistemas, documentos ou informações sensíveis.  

“Muitas empresas já incorporaram soluções como essas em processos de crédito, embora as indústrias ainda não tenham atingido o mesmo grau de maturidade do mercado financeiro contra o cibercrime”, comenta Abner Rosa, especialista em prevenção de fraudes no setor financeiro e diretor da Agência Brasileira de Controle de Risco de Fraude e Segurança da Informação (ABCR).  

Ainda no âmbito de comprovação de identidade dos agentes envolvidos nas decisões de negócios, Abner cita outras opções como biometria de voz, quiz com perguntas pessoais e sobre a empresa e a tecnologia device fingerprint, que atua na identificação de dispositivos (celulares e computadores) utilizados em um acesso. 

Detecção de inconsistências: tecnologias no rastreamento de detalhes 

Grandes golpes podem se originar de brechas abertas a partir de pequenas alterações. Um dígito na numeração de contas bancárias, chave pix, códigos de barras, telefones e e-mails podem passar despercebidos.  

“Nesse sentido, as tecnologias Optical Character Recognition (OCR) são aliadas para a leitura e detecção de inconsistências de informações em documentos eletrônicos e cadastros, menciona Antônio Oliveira, especialista em direito digital voltado a contratos e mercado financeiro e sócio da Peck Advogados

Ele também cita a contribuição dos recursos para cruzamento de dados como os quais os de birôs de crédito, CISP e receita federal, também se mostram fundamentais na identificação de divergências de informações. 

Exemplo dessa atuação é a plataforma Maxxi, desenvolvida pela CISP para uso exclusivo das quase 200 indústrias nacionais e internacionais associadas. O Maxxi busca, de forma automatizada, informações cadastrais e negociais disponíveis em diversas fontes. 

“O associado mantém a sua base de clientes constantemente atualizada, o que auxilia na prevenção de fraudes”, afirma Marcelo. Ele ressalta que as tecnologias utilizadas na plataforma são determinantes para a tomada de decisão com padronização, segurança e rapidez, seguindo regras da política de crédito da empresa. 

Antônio menciona, ainda, as ferramentas blockchain, focadas em registros compartilhados e imutáveis, de forma a facilitar e aumentar a agilidade e segurança do processo de gravação de transações e rastreamento de ativos. 

“Pessoas são o elo mais forte na gestão de risco” 

Para a aplicação de ferramentais tecnológicas, no entanto, é fundamental que as aquisições sejam apenas uma parcela de um conjunto de ações integradas, envolvendo políticas que fomentem a visão estratégica em gestão em crédito e cobrança, a conduta ética e a governança entre os profissionais. 

Sob esta perspectiva, é preciso ultrapassar a mentalidade arcaica da pura e simples substituição de tecnologias em processos. A aplicação de ferramentas digitais deve estar em sinergia com o desenvolvimento de pessoas e com a cultura do negócio. 

“Quando falamos em inovação, as pessoas são o elo mais forte na gestão de risco”, enfatiza Abner Rosa. O argumento de Antônio Oliveira vai na mesma direção. Ele considera que a prevenção de fraudes é uma jornada: “as empresas não podem ver todos os aspectos de forma isolada. Por isso é fundamental investir nas pessoas, com treinamentos e políticas claras.” 

De acordo com Abner, é indicado manter hábitos saudáveis com os clientes também no offline. “Ter uma rotina de “conheça o cliente”, em que profissionais de crédito estão em parceria com a área comercial, é indispensável. Não podemos perder as relações físicas de vista.” 

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